. A tradicional feira de Santo André, remonta a sua muito provável origem para além da ocupação visigótica em terras de Mesão Frio; porém, a mais coeva referência documental às festividades-feiras de Santo André, somente aparece no texto medieval do Foral Afonsino, datado de Fevereiro de 1152 ( " in primo de uma quaque domo in uno anno reddatis XII Denarios de illa Festa Sancti Andrree").
Este imposto territorial de doze denários, pago pelos feirantes de fora da vila de Mesão Frio para entrar na feira de Santo André, demonstra que este antigo concelho-burgo era povoado por negociantes e artistas que viviam, quase exclusivamente, do comércio e industria, e pouco ou nada da agricultura.
Nos princípios da formação do reino portucalense, as tradições e costumes herdados de godos e sarracenos, últimos invasores deste antigo território que abrangia uma vasta região chamada Distrito de Panóias, com sede jurisdicional na velha Constantim, originaram a mistura de feiras e romarias pagãs com festividades religiosas, tornando-se uma das mais antigas manifestações populares do período medieval, que percorrendo as vicissitudes dos tempos, ainda hoje se efectuam em moldes quase idênticos. Quase todas as feiras anuais se realizam em dias relacionados com festejos das igrejas locais, e, na Idade Média, existia uma paz especial, a Paz da Feira, que proibia toda a disputa ou vingança, sob penas severas para os transgressores.
Em 1 de Julho de 1289, uma Carta Régia que se encontrava nas Doações de D. Dinis, autorizou os moradores de Mesão Frio a organizar uma feira anual de vários dias de duração, por ocasião das festas de Santa Marinha. Um século depois (3 de Abril de 1385), por influência política que o bispado de Lamego tinha nos bastidores das cortes do Reino, a feira é transferida de Mesão frio para Lamego, originando tumultos e queixas dos feirantes daquela vila, facto que forçou a revogação da Feira Franca, "não por Santa Marinha, mas na última semana de Maio e primeira de Junho", por nova Carta Régia datada de 13 de Março de 1390, tal como se encontrava documentado no Livro 2, folha 7 v.º,M. f. 167, Chancelaria de D. João I, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Na Idade Média, as Cartas que outorgam as Feiras Francas constituíam o diploma, por excelência, da autorização régia destas importantes reuniões mercantis, e mostravam a preocupação de salvaguardar os interesses comerciais das localidades circunvizinhas, concedendo aos feirantes o privilégio de poderem andar armados nas feiras; não serem demandados por qualquer dívida não contraída na própria feira; não se obrigarem a prestar qualquer trabalho forçado; nem seus animais serem tomados para carga do serviço do rei, não só durante o tempo de duração da feira, como na sua ida e regresso.
A importância de Mesão Frio como centro mercantil dos povos em redor começa a exigir novos espaços para venda e troca de produtos, e já não surpreende quando no início do século XV (1410) aparece uma outra Carta Régia, também com Chancelaria de D. João, outorgando a Mesão Frio uma feira Mensal no oitavo dia de cada mês, apesar da conflituosa contestação dos mercadores de Lamego (uma vez mais...), que pediram a sua anulação "por dizerem que se lhes danava a sua feira ( ... ) e que esta feira (de Mesão Frio) se não fizesse sem requerer a Justiça da Cidade". Lamego, apesar da sua importância como concelho-perfeito e uma das principais cidades do Reino, não viu atendido o seu pedido, e Mesão Frio continuaria até ao domínio dos Filipes a ser privilegiada com uma feira franqueada, uma feira anual (mais tarde transferida para as festas de Santo André) e uma feira mensal.
Os privilégios de Feira Franca assumiram, nesta vila, um estatuto especial no século XVI, quando aparecem protegidas, por força da lei régia no Foral manuelino de 1513, várias isenções de portagem de entradas na vila para produtos tão diferentes e utilitários como o pão cozido, o vinho, o sal, a fruta verde, a hortaliça, a linhaça, os legumes verdes, o pescado, o vinagre, o trigo centeio, a cevada, o milho, o painço,a aveia, a cal, o gado cavalar e muar, as queijadas, os biscoitos, os farelos, os ovos, o leite, o gado montado, o gado miúdo, os panos de lã e de linho, o azeite, o mel, a casca, o sumagre, e a obra de carro, entre muitos outros confirmando a importância de Mesão Frio como mercado abastecedor dos povos circunvizinhos:
" A villa de Mezão-Frio é o centro commercial de todo o concelho e dos povos limitrophes. Há todas as semanas tres mercados fornecidos pelos concelhos de Baião, Marco de Canavezes, Amarante e Felgueiras, d' onde, se abastecem os concelhos de Mesão Frio, Regoa, Santa Martha de Penaguião, Lamego e Rezende: estes mercados têm logar aos domingos, terças e quintas feiras. Fazem-se também duas feiras mensaes nos dias quinze e ultimo de cada mez, bem como outra annual, chamada a feira de S. André, que principia em 30 de Novembro e dura geralmente oito dias. A todos estes mercados e feiras afflue muita gente de diversas povoações".
Com o advento da República, e o fim dos privilégios reais das feiras franqueadas a Feira Franca de Mesão Frio, que já se misturava com as feiras de Santo André, foi perdendo a sua importância secular, quase desaparecendo por completo na década de setenta do ano XX.
O local primitivo onde se realizavam as antigas feiras francas e os mercados semanais desta vila, era na antiga Praça da Erva, hoje denominada Praça do Pelourinho.
Mais tarde, o local da feira mudou-se para os terrenos inferiores onde actualmente se encontra o Lar dos Estudantes, até se fixar definitivamente em Junho de 1981, exclusivamente como mercado Municipal, para uma bifurcação ao Norte da Avenida Conselheiro Dr. José Maria de Alpoim, sobranceira à marginal que ladeia o Rio Teixeira.
Barqueiros também teve privilégios de Feira Anual que se realizava por ocasião das festas do padroeiro S. Bartolomeu, a 24 de Agosto, no Lugar de Sub-Igreja hoje largo do Pelourinho, onde ainda existe um tanque cisterna com água nascente, que servia para dar de beber às bestas de carga do mercado, e em cuja pedra frontal se encontra gravada uma data (1009) que corresponde ao ano 1047 da Era de Cristo .
Se exceptuarmos a Feira Anual de Santo André (recuperada pele autarquia em 1989), o que resta para memorizar os tempos em que Mesão Frio era o centro mercantil de todos os povos em redor, é o modesto mercado ou feira semanal que se efectua todas as sextas feiras.
in Site da Câmara Municipal de Mesão Frio |